Quando a gente muda de país, algumas coisas tornam-se latentes logo nos primeiros dias: a língua que falam não é a sua, as pessoas são diferentes, a comida é diferente, existe uma burocracia que lhe é desconhecida e normas sociais que você não domina. Resumindo, as diferenças – muitas vezes gritantes – se tornam latentes logo de cara.
E junto com as diferenças pode vir junto uma sensação de não-pertencimento. Você sente que não pertence àquele lugar, àquele povo, que você não faz parte do que está acontecendo naquele momento. Você quase consegue se ver como uma outra pessoa, vivendo num outro mundo. Você se sente, em certa medida, um ET.
Essa é uma sensação normal e acontece provavelmente com todos que vivem uma experiência transcultural. Só que o problema é que quanto mais você se permite senti-la, mais você agirá como alguém que não pertence. Sim, porque é aquela coisa: o que você pensa determina como você sente, que determina como você age.
Não estou dizendo aqui que você deve suprimir o sentimento. Nada disso. Mas aprendi, nesses últimos dias, que é preciso transformá-lo. Num primeiro momento, sente-se como um ser que não pertence ao lugar. Mas depois, a ótica precisa ser mudada para algo bem simples: eu pertenço ao lugar em que estou nesse momento. Ou seja, no presente eu pertenço a esse lugar.
Pode ser que amanhã eu já não pertença. Mas se estou aqui, agora, eu pertenço sim a esse lugar. E eu preciso estar aqui, presente, pra desfrutar de tudo o que ele pode me oferecer.
E essa máxima não vale apenas para quem vive em outro país ou longe de casa. Vale para quem mudou de emprego, para quem está num novo relacionamento. Ou melhor, vale para todo mundo que olha em volta em determinado momento e não se sente parte daquilo que está acontecendo.
Claro que se você não se sente parte de algo, você pode mudar. Pode sair do seu emprego, entrar num novo relacionamento, aprender a lidar melhor com as situações. Mas antes de fazer qualquer coisa, tenha a certeza de que você se entregou por inteiro àquele momento. Que você esteve lá quando devia estar.
Porque isso, infelizmente, é algo que fazemos tão pouco. Vivemos o passado, sofremos o futuro, mas deixamos o presente abandonado. Então, que tal vivê-lo intensamente e se fazer presente? Eu aceitei o desafio e estou fazendo a minha parte!